Na sua edição de 11 de Junho de 1967, o “Notícias de Ourém” noticiava e publicava na sua primeira página, sob o título “Cândido Afonso Machado Costa”, o texto que passamos a reproduzir na íntegra:
“A morte, na sua implacável e tenebrosa tarefa, acaba de levar-nos um dos homens que mais têm amado esta nossa terra. Não era ouriense pelo nascimento mas sim transmontano de boa raiz, e até nós veio, homem feito, depois de galhardamente ter ocupado o seu posto de oficial miliciano na terra fria da Flandres, quando da primeira Grande Guerra.
Até nós veio então e aqui se radicou, desde novo portanto, primeiro como funcionário das Finanças e depois da Justiça em que permaneceu até se aposentar, com dois curtos interregnos de serviço fora da nossa Comarca, um em Soure e outro, no final da carreira, em Lisboa.
A sua vida, portanto, decorreu praticamente toda em Ourém, onde constituiu um lar perfeito – e de tal modo que, na falta de filhos, o repartiu, generoso e feliz, por aqueles que o não possuíam.
Convictamente afirmamos que não sabemos de homem algum que melhor se identificasse com a bondade, a tolerância, a paciência, e que maior dignidade e correcção pusesse em todos os seus actos. Por isso, ser companheiro do Cândido Machado era título honorífico que todos disputavam e que ele magnífica e prodigamente repartia.
Ourém deve-lhe bastante, pois nunca a sua bolsa, a sua presença e o bom senso se recusavam a colaborar em iniciativas locais tendentes ao seu progresso. A fundação da Banda de Vila Nova de Ourém, a instalação do Cinema sonoro e outros melhoramentos onerosos tiveram o seu contributo largo. De todas as instituições da Vila fez parte como dirigente, e onde geralmente era chamado em situações difíceis, que requeriam por isso a sua ponderação e bom conselho. Pertenceu à mesa administrativa do Hospital que fundou o Asilo e que promoveu a construção do actual edifício da Casa da Criança.
Por fim e apenas no propósito de bem servir Ourém, desempenhou, com inalterável dignidade e modéstia, as elevadas funções de vice-presidente do Município Ouriense, cargo que deixou ainda há pouco tempo por motivos da sua já então abalada saúde.
O funeral constituiu uma sentida manifestação de pesar, tendo sido rezada missa de corpo presente na Igreja Matriz desta Vila. Nele se incorporou a Câmara Municipal, cujo Presidente também representava o Sr. Governador Civil de Santarém.
O féretro foi transportado numa viatura dos Bombeiros Voluntários de cujos corpos directivos o extinto tem feito parte.
Nos Paços do Concelho esteve hasteada a meia adriça, durante três dias, a Bandeira do Município.
O sr. Cândido Afonso Machado e Costa deixa viúva a srª D. Maria Isabel de Barros e Sá Pereira Machado. Nasceu em Cerva, concelho de Ribeira de Pena, distrito de Vila Real, em 7 de Agosto de 1890, e era filho da srª D. Ana Teresa Bernardes Machado e Costa e do sr. Alfredo Afonso Machado que chefiou a Repartição de Finanças deste concelho, e irmão da srª D. Luísa Machado e Costa, casada com o sr. Jerónimo Machado, ausente nos Estados Unidos da América e tio da srª D. Maria José Machado e Costa Pereira, casada com o sr. Sérgio Augusto Alves Pereira, ausente em Luanda.
À família enlutada e especialmente à Exma. srª D. Maria Isabel, que durante a longa doença de seu saudoso marido e até aos últimos momentos foi enfermeira extremosíssima, apresenta o «Notícias de Ourém» as suas muito sentidas condolências”.
Pensamos que o texto dispensa comentários.
Apenas três se nos oferecem dizer agora:
1º O que fez Melvin Jones por Ourém para merecer o seu nome numa rua?
2º A Câmara de Ourém o que está à espera para homenagear condignamente Cândido Afonso Machado e Costa?
3º A Câmara de Ourém é burra, estúpida, ingrata e sem memória, ou as quatro coisas juntas?