AS «VILLAS» CEMITÉRIOS
No centro da cidade ficava uma importante Villa, onde se comerciava vinho por atacado; construída sobre uma espécie de passagem abobadada que dava para o jardim através de estreitas janelas, era uma Villa rica, célebre pela colunata que rodeava o jardim e o peristilo. Nos subterrâneos conservavam-se as ânforas de vinho, com a base pontiaguda enterrada no chão. O proprietário da casa julgou que esta cave, solidamente protegida pelas suas abóbadas, podia garantir temporariamente a segurança dos seus: levou para ali toda a família, bem como os criados que conseguiu reunir. A mulher, com pesadas jóias ao pescoço e nos pulsos, apertava uma criança nos braços; junto dela estavam um filho e uma filha; esta, uma adolescente que vestia do linho mais fino, tinha, como a mãe, preciosas jóias. O dono da casa, convencido de que o abrigo era seguro, mandou amontoar nele abundantes víveres. Carregado com um saco de moedas de ouro, quis sair de casa, acompanhado por um escravo que transportava as pratas, a fim de se assegurar de que o caminho para o mar estava livre; contava, depois, vir buscar os seus. Os dois homens nem chegaram a transpor a porta da rua: asfixiados, tombaram sobre a espessa camada de cinzas e de pedras. Entretanto, no criptopórtico, a cinza amontoava-se, impalpável, penetrando pelas mínimas fendas, acompanhada de gases deletérios. A ventilação era quase nula; os jovens cobriram a cabeça com o manto, a menina das jóias também tentou proteger-se com a túnica; teve uma morte horrível, com a cabeça apoiada no colo da mãe, último e inútil refúgio. Foram encontrados na cave trágica 34 cadáveres. No rés-do-chão encontrou também a morte uma cabrinha familiar, ainda com o guizo ao pescoço.
A Villa dos Mistérios, depois do sismo de 63, tinha sido transformada em exploração agrícola. No primeiro andar da casa, três mulheres foram surpreendidas pela erupção; nem sequer tiveram tempo de descer para a rua: o peso das cinzas fez ruir o tecto e o sobrado do primeiro andar. As mulheres partiram as pernas ao caírem no andar inferior e morreram sufocadas; uma delas, ainda adolescente, apertava contra o peito um espelhinho de bronze. Ocupados nos trabalhos de restauração da Villa, os operários refugiaram-se no subterrâneo, pois a única porta de saída ficara bloqueada pelas cinzas. O porteiro, resolvido a não abandonar a casa, tinha procurado, de sala em sala, um abrigo que lhe parecesse seguro: foi encontrado num estreito reduto, hermeticamente fechado. No entanto, a maioria dos habitantes da Villa conseguiu fugir: nesta vasta moradia, com noventa salas, apenas foram descobertos oito cadáveres…
Os lugares públicos, como é natural, não foram poupados. O anfiteatro, felizmente, estava quase vazio, mas havia muita gente na palestra, onde os jovens pompeianos se treinavam nos desportos. Quando as pedras começaram a cair, ginastas e espectadores refugiaram-se debaixo do pórtico, que não tardou a ruir, sob o peso dos lapilli e das cinzas. Um servidor de Ísis, com os braços carregados de vasos sagrados que ornavam o altar vizinho, foi sepultado nas cinzas com o seu precioso fardo.
Era inútil procurar refúgio numa cave ou debaixo de um pórtico.
Só a fuga podia conduzir à salvação.
O tecto da casa de Trébio Valeu, com as paredes cobertas de inscrições eleitorais, matou quatro pessoas na sua queda. Mais além, na casa do pintor Amando, também se julgaram protegidos por uma sólida parede: foi a asfixia que matou os nove componentes da família, encontrados no vestíbulo.
Perto da casa do Criptopórtico estava situada a Villa chamada do poeta Menandro, poeta cómico cujo retrato figurava nos frescos do átrio. Só os escravos se encontravam em casa; o patrão estava ausente. A Villa compunha-se de duas secções: em baixo, a residência do proprietário e as dependências dos criados; no primeiro andar ficava o alojamento dos escravos e do intendente. No início do drama, estes ainda hesitaram em deixar o andar que lhes estava destinado, mas, como as pedras continuavam a cair e a camada de lapilli atingia já dois metros e meio, no átrio, resolveram descer: imagine-se os nove homens, numa estreita escada de madeira, guiados por um deles, com a lanterna de bronze. Os vapores de enxofre começam a espalhar-se e os nove homens tombam, uns sobre os outros, na escada deserviço. Pelo contrário, duas mulheres, ao verem o chão cobrir-se inexoravelmente de cinzas e de pedras, refugiaram-se no primeiro andar, por cima dos estábulos: morreram esmagadas pelo tecto. O intendente, por sua vez, dirigiu-se com a filha para o cubículo onde guardava os sinetes do patrão e as alfaias dos escravos. Foi encontrado estendido na cama, com a criança ao lado, ambos cobertos com almofadas e travesseiros, debaixo de vários metros de cinzas.
Na casa do padeiro Próculo, brincavam sete crianças. O primeiro andar caiu em bloco sobre elas.
Na lavandaria, empregados e clientes morreram simultaneamente.
(Continua…).