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publicado por João Carlos Pereira e Friends, em 03.12.10 às 19:46link do post | adicionar aos favoritos


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publicado por João Carlos Pereira e Friends, em 25.11.10 às 23:06link do post | adicionar aos favoritos

 

A escassos dias da passagem do trigésimo aniversário sobre a morte de Francisco Sá Carneiro, naquele trágico dia 4 de Dezembro de 1980, que deixaria o país órfão de uma das figuras mais carismáticas e emblemáticas da História política portuguesa da segunda metade do Século XX, não podíamos deixar de antever e de nos associar à efeméride, trazendo a este Blog um texto que, apesar de não fazer directamente referência a uma retrospectiva do homem político, procura ainda assim perscrutar aquele que foi, sem qualquer sombra de dúvidas, o grande amor de Francisco Sá Carneiro: Snu Abecassis. 

O texto abaixo, ligeiramente adaptado, reproduz um trabalho de Sofia Rato, publicado em 2003 no Correio da Manhã, e que nos dá uma outra perspectiva da jornalista e da mulher que conquistou o coração de Sá Carneiro.

 

 

«Quem era a “princesa da Dinamarca” que conquistou Sá Carneiro? Após a recusa da Dom Quixote – editora que Snu fundou – em publicar a sua biografia, a Quetzal avançou. E deixa pistas sobre a mulher que desafiou o País.

Dinamarca, 1940. A 7 de Outubro, a segunda filha do jornalista Erik Seidenfaden e de Jytte Merete (mais tarde Bonnier), também ela jornalista e editora, veio ao mundo e foi baptizada como Ebbe Merete Seidenfaden, em homenagem à avó materna. Ainda pequena, mudou-se para a Suécia e na adolescência, adoptou o diminutivo “Snu”. Aos 16 anos, partiu para Inglaterra, onde conheceu Vasco Abecassis, um “judeu português”. Tornaram-se inseparáveis. Ele seguiu para Harvard e ela rumou até Boston. Aos 18 anos, Snu casou na Suécia com o português.

Lisboa, 1962. Snu e Vasco Abecassis assentavam arraiais em Lisboa. Pela quarta vez, ela chega a um país estrangeiro para aí residir. Ele é convidado para a guerra (Guiné), mas, antes de partir, o casal decide abrir uma editora e designa-a de “Dom Quixote”.

Sozinha em Lisboa, Snu dedica-se de alma e coração à sua editora, publicando livros nem sempre recomendáveis aos olhos atentos do Estado Novo. Ela era obstinada e persistente. Por isso, ninguém da sua família estranhou quando soube que a Polícia visitava regularmente a editora para apreender livros ou para lhe fazer perguntas.

Snu e Vasco Abecassis tiveram três filhos: Mikaela, Ricardo e Rebeca – esta última, tal como os avós maternos, é jornalista. O casal separou-se. Há muito que ela queria sair de casa. O casamento já não existia verdadeiramente, ele continuava a não acreditar que as pessoas podiam ser melhores do que a sociedade, enquanto ela continuava a acreditar que o eram, e essa era uma crença vital à sua sobrevivência.

6 de Janeiro de 1976. Snu e Francisco Sá Carneiro conhecem-se num almoço organizado por Natália Correia, no restaurante lisboeta “A Varanda do Chanceler”. Até então, tinham falado ao telefone algumas vezes, mas nunca se tinham cruzado. Foi, na verdade, o primeiro dia do resto das vidas deles.

Aliás, quando Sá Carneiro perguntou à poetisa como era Snu, a resposta foi implacável: “É uma princesa nórdica num esfique de gelo à espera que venha um príncipe encantado dar-lhe o beijo de fogo. E esse príncipe é você. Porque ela é a mulher da sua vida”.

A partir desse almoço, Sá Carneiro e Snu não se largaram mais de vista. Ele passou a visitá-la com frequência na Dom Quixote. Ao final da tarde, bebiam chá e conversavam. Apaixonaram-se perdidamente.

Isabel, mulher de Francisco e mãe dos seus cinco filhos, não lhe quis dar o divórcio. Mais tarde, a “legítima” explicou os porquês desta recusa (em “A Solidão e Poder”, da jornalista Maria João Avillez): “Foi o homem de quem gostei, o pai dos meus filhos. Não é fácil viver com ele, é um facto. Mas era muito mais difícil viver sem ele”.

No entanto, a verdade é que quando Sá Carneiro se perdeu de amores por Snu, vivia sozinho na Capital, enquanto Isabel residia no Porto com os filhos. “Ele tinha saído de casa há muito tempo, morava sozinho em Lisboa havia anos”. 

Alheios às críticas, Snu e Francisco começam a viver juntos. Ele tornara-se na sua grande aposta. Tornara-se naquilo que ela estava em vias de criar. Ela sabia que ele tinha as qualidades necessárias ao político que colocaria Portugal num lugar seguro entre os Estados modernos da Europa. Aos olhos da sociedade, e em especial da classe política, esta relação “clandestina” era incómoda. Foi ele que se mudou para casa dela e dos filhos. Francisco queria que ela o acompanhasse para todo o lado.

Em 1977 Sá Carneiro afirmou: “Se a situação for considerada incompatível com as minhas funções, escolherei a mulher que amo”. Dois anos depois, o fundador do Partido Social Democrata tornou-se primeiro-ministro. Tê-lo-ia conseguido sozinho ou deveu-o a ela?

Reza a história que em 1980, na recepção oficial ao presidente norte-americano Jimmy Carter, e perante a eventual presença de Snu, Manuela Eanes, estão primeira-dama do País, terá dito: “Se ela for, e não vou”.

“Ela” era Snu Abecassis, uma mulher que desafiou as leis do Estado Novo, que se separou do marido (do qual permaneceu amiga) e que “ousou” viver em união de facto com o amor da sua vida.

E, assim, contra tudo e contra todos, a mulher que veio do frio e o primeiro-ministro de Portugal protagonizaram um romance intenso durante quase cinco anos. O que começou num almoço a 6 de Janeiro de 1976, terminou, tragicamente, a 4 de Dezembro de 1980, quando o casal perdeu a vida em Camarate. Na noite anterior, Snu ligou à mãe a dizer-lhe: “Vamos num avião de carreira – não é perigoso”.

Se Francisco Sá Carneiro e Ebbe Merete Seidenfaden se tivessem conhecido e casado pela igreja ouviriam as palavras: “Não separe o homem o que Deus uniu (…) juntos, na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, até que a morte os separe”.

Não puderam casar, mas, no final, nada conseguiu separá-los. Nem mesmo a morte».

 

Memórias de Mãe:

Porque escreve uma mãe sobre a sua filha morta? O que mais pode uma mãe fazer do que escrever sobre a filha que morreu? As minhas linhas sobre a Snu são a minha maneira de a deixar viver mais tempo, e tentar sobreviver ao facto de ela ter morrido tão prematuramente”.

 

Jytte Bonnier, Suécia, 1986


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