Uma das bandeiras que o Partido Socialista utilizou nas últimas eleições autárquicas, e a nosso ver bem, foi o excessivo endividamento da Câmara Municipal de Ourém e o prejuízo financeiro que, mau grado o questionável apuramento, se traduziria em muitos milhões de euros, um saldo negativo que se foi acumulando ao longo dos últimos anos.
Esta situação precária das finanças municipais vivia (e vive) a paredes-meias com uma crise internacional e nacional, que começou por ser financeira, depois económica e, finalmente, social, com o défice orçamental e a dívida pública a registarem valores insustentáveis, e o desemprego a subir vertiginosamente.
Contra aquilo que foram as suas bandeiras ou promessas eleitorais, ou seja, assumir uma gestão de rigor, dando primazia à contenção das despesas e do desperdício, não foi preciso esperar muito tempo – foram precisos apenas oito meses –, para o PS começar a gerir a autarquia oureense em contra-ciclo.
Referimo-nos concretamente às festas da cidade de Ourém, de Junho passado, as quais, contra todas as expectativas que seriam razoáveis, tiveram lugar envoltas em grandiosa pompa e circunstância, como se o tempo que então vivíamos, como continuamos a viver agora, fosse de vacas gordas e o município oureense estivesse a nadar em dinheiro, como é uso comum dizer-se quando se vive acima das possibilidades.
Fomos críticos o bastante em relação à megalomania da organização daquele evento, como o fomos em relação ao misticismo que envolveu o modo de como tudo aquilo foi pago.
Para o efeito, o presidente da Câmara Municipal de Ourém, Paulo Fonseca, pressionado pela Oposição na Câmara e perante o coro de dúvidas que se fizeram sentir, sentiu-se na “obrigação” de dar explicações aos oureenses, tendo afirmado, em entrevista ao Jornal “Notícias de Ourém” (salvo erro em Agosto do ano passado), que tinham sido os patrocinadores a suportar praticamente todos os custos das festas, as quais, recorde-se, compreenderam a realização de vários espectáculos musicais, de relevante mérito e peso nacional, mas que se fizeram certamente pagar a bom preço ou, pelo menos, a preço justo.
Na mesma entrevista, Paulo Fonseca abria um pouco o véu, dando-nos conta que um dos benditos patrocinadores misteriosos tinha sido a Sagres – ora aí está uma revelação do outro mundo, como se a visibilidade desta marca não tivesse ficado claramente retida nos olhos das pessoas ou não tivesse matado a sede a muita gente.
Continuava naquela entrevista, prometendo a realização de um relatório das festas, encontrando-se constituída uma comissão para a sua elaboração, e que a breve prazo seria publicamente apresentado.
Pois bem, passados oito meses sobre a data do evento, é caso para perguntar:
Onde está o famigerado relatório? O que é feito da misteriosa comissão? Oito meses não serão suficientes para dizer aos oureenses, em poucas linhas, onde se foi buscar o dinheiro e quem foram as almas caridosas que, em tempo de vacas magras, puxaram dos seus abnegados interesses e presentearam os oureenses com tamanha festividade?
Ou será que as questões do rigor e da transparência só se aplicam aos outros e servem apenas de mero apanágio eleitoral?
Se para elaborar um simples relatório das festas da cidade são precisos mais de oito meses e tanto secretismo e polémica, começamos a perguntar-nos o que não poderá estar por debaixo do pano ou o que mais poderá vir por aí…