Um dos temas quentes da agenda do Conselho Europeu reunido em Bruxelas quinta e sexta-feira passadas foi a proposta do eixo franco-alemão de alteração do Tratado de Lisboa no sentido de aplicar sanções políticas aos Estados-membros que não cumprissem as regras orçamentais estabelecidas, concretamente a suspensão do direito de voto nas reuniões ministeriais e nos conselhos europeus.
Com efeito, segundo noticiou o “Jornal Sol” desta sexta-feira, “Paris e Berlim decidiram bilateralmente assumir as rédeas da futura regulação às economias da zona euro, apesar de, à luz das regras do Tratado de Lisboa, ter sido criada com esse objectivo uma equipa de trabalho composta pelos ministros das finanças da zona euro e liderada pelo presidente permanente do Conselho Europeu, Herman van Rompuy”.
Este directório franco-alemão, para além de ser repugnante e de evidenciar a velha pretensão dos estados mais fortes em controlar e impor as regras aos estados mais fracos e pequenos, faz avivar o problema que a Europa enfrenta ao nível das lideranças e do futuro que pretende para si própria.
A evidência dos factos mostra-nos que os actuais líderes europeus estão apenas preocupados com o seu umbigo, e não encaram o espaço que a União Europeia representa como um todo coerente, onde a solidariedade entre estados deve sobrepor-se às vontades individuais de cada um deles.
E isto verificou-se, por exemplo, aquando da ajuda financeira à Grécia que, por imposição da Alemanha, tardou a efectivar-se. Um adiamento compreensível à luz dos interesses de Berlim, mas injustificado se levarmos em linha de conta o que representa o projecto europeu – um espaço de liberdade, uma união económica, monetária e política fortes, um território onde deve predominar a solidariedade entre os povos e a coesão social, um espaço de cultura e de integração plena, uma Europa que respeita as diferenças dos estados que a compõem e os direitos fundamentais dos cidadãos.
Ora, é esta ideia federalista da Europa, precisamente aquela que os seus “Pais Fundadores” almejaram, que está em causa com estas lideranças medianas e medíocres.
Lideranças que fazem com que o projecto europeu seja um percurso que avança e recua, que não mobiliza as pessoas e que parece nunca vir a atingir os objectivos para que foi criado.
A exigência alemã de suspender o direito de voto dos Estados-membros que se desviem das metas orçamentais definidas por Bruxelas é mais um reflexo dos interesses egocêntricos destas potências e das suas lideranças, que minam o projecto europeu e que constituem um exemplo da fraca vontade de os seus líderes prosseguirem esta difícil mas necessária tarefa de construção de uma Europa unida e forte que, mais do que benéfica para o espaço europeu, traria equilíbrio e claros benefícios para todo o mundo.
Os “Estados Unidos da Europa” são, por isso e cada vez mais, uma condição de sobrevivência e de progresso, e menos um capricho ou uma utopia de meia dúzia de visionários que se deleitaram a pensar o que seria melhor para todos nós, europeus.