Para pôr termo ao lamentável folhetim da iluminação de Natal, quer em Ourém quer em Fátima (ou Cova de Iria?), eu, João Pereira, me confesso.
Falando apenas de Ourém, já que Fátima, sendo a jóia da coroa para muito boa gente (que se esquece que Ourém sempre foi, é e, se o bom senso imperar, há-de continuar a ser a sede do concelho) não é chamada hoje para este texto, posso dizer que percorri todas as artérias da minha querida cidade (na qual eu nasci) à procura de algo novo que me lembrasse o Natal.
O que constatei foi, à excepção da árvore de Natal gigante junto aos Paços do Concelho, um arraial folclórico que me lembrou as festas populares. Julguei que o Santo António tinha chegado mais cedo, ou então que as estações do ano haviam sido trocadas.
A iluminação é, com efeito, feia, assustadoramente mal concebida e pindérica. Revela um mau gosto atroz, amplamente saloia e brejeira.
Acho sinceramente que, ou cumpríamos o rigor de austeridade financeira com que todo o país (incluindo regiões autónomas) está confrontado, ou então não se gastava um único cêntimo nesta feira de vaidades e iluminações que só servem para enganar parvos e gente incauta.
Se há um ano estávamos falidos, hoje estamos falidamente iluminados.
Demagogicamente, os caciques locais querem-nos atirar para os olhos as benfeitorias deste Natal, como se o povo tivesse memória curta e não se lembrasse do que se tem escrito por aí.
É fácil vociferar despautérios contra a gestão camarária anterior. Eu próprio teci veladas e objectivas críticas a respeito do marasmo que nos impuseram em mandatos anteriores.
Mas, paradoxalmente, não vejo o que é que tenha mudado. Ou melhor, algo mudou, mas não augura um bom presságio.
Certa vez, perguntei a Orlando Cavaco (e espero não estar a cometer nenhuma inconfidência), na dependência da Caixa Geral de Depósitos (passo a publicidade), por que razão a Câmara Municipal só nomeava boys social-democratas para os principais cargos dirigentes do nosso concelho. A resposta que obtive foi que, por estarem dentro dos assuntos, eles seriam os mais qualificados para as diversas funções…
Hoje, a pergunta que deixo aqui é a seguinte: quantos boys do PSD a actual maioria pôs na rua quando assumiu funções? E quantos boys socialistas entraram na órbita municipal?
Não estaremos, neste momento, com um aparelho público a nível local super obeso, cujas tetas, por tão ordenhadas que têm sido, começam a dar sinais de cansaço?
Não estará a actual maioria a dar guarida a uma trupe de gente que, a juntar à que já lá estava, apenas se quer orientar na vida e delapidar o pouco que nos resta?
E quem pagou as festas da cidade? Quem são os misteriosos benfeitores que proporcionaram ao povo um chá inebriante que apenas serve para distrair e enganar as pessoas? E que apenas serve para cativá-las e domá-las?
Por que razão Ourém só tem dois (salvo erro) planos de pormenor, e um, precisamente na Caridade?
Será que quem anda a patrocinar / financiar a Câmara Municipal de Ourém são os amigos e afilhados que, a troco de uns tostões, vão recebendo uns favorzões?
Por que razão ninguém nos explica isto?
Claro que o povo, enquanto anda entretido com festinhas, inaugurações e luzinhas, não tem tempo para pensar nestas coisas.
Se Salazar embrutecia o povo negando-lhe a educação, nos tempos que correm dão-se-lhe uns copos e umas bifanas que ele fica estupidamente entretido. E o resto meus senhores? E as contas? E o dinheiro, vai-se buscar onde?
E depois poupa-se na lenha das criancinhas, porque essas lá têm que se aguentar… E depois desconfia-se dos professores, porque esses a lenha podem roubar…
Caros amigos: estamos em crise, e ponto final.
Uma árvore de Natal gigante? Sim senhor, assino por baixo. Tudo o resto é feio, é dinheiro mal gasto, são presentes envenenados e uma tremenda falta de gosto.
Este novo-riquismo sempre me fez muitas borbulhas, estraga-me a pele, sei lá, sobretudo esta vida fácil quando metemos a nossa burra foice em seara alheia, a do Estado, a grande teta que alimenta falidos e desprovidos de negócio ou futuro.
Espero que o Orlando Cavaco ainda se lembre da proposta que me fez no Café Chiado há alguns anos atrás, porque hoje, mais do que nunca, tenho pena de ter sido quem fui ou de ter (termos) sustentado muitos burros a garbosos pães-de-ló… a não ser que, feitas as contas deste rosário infeliz, ainda apareça o Pai Natal a dizer-me o contrário.
Tenham umas Festas imensamente felizes e, já agora, um Excelente e Santo Natal.