Ao fazer um périplo pelos Blogs do concelho de Ourém, despertou-nos a curiosidade um texto colocado no passado dia 6 de Setembro no Blog “Sobre Ourém”, da autoria de Sérgio Faria, intitulado “o espectro e o aspecto”.
Nesse texto, Sérgio Faria relata-nos um episódio que decorreu em plena sessão da Assembleia Municipal, cujo protagonista foi o próprio Presidente da Câmara Municipal de Ourém, em relação ao qual teceu duras críticas pela alegada postura arrogante e despropositada que assumiu na sequência de uma intervenção feita pelo líder do grupo municipal do PSD, chegando mesmo a comparar Paulo Fonseca ao ex-presidente da Câmara, David Catarino, no que aos “modos, esquemas e enredos” diz respeito.
Para além disso, “Paulo Fonseca revelou a arrogância, a crispação e o destempero que caracterizaram alguns dos episódios mais lamentáveis protagonizados por David Catarino em sessões daquele órgão”, afirma ainda o autor.
Sérgio Faria conclui dizendo que “anos e anos a estagiar na oposição municipal e o que o pessoal do PS revela ter apurado melhor durante o tirocínio é a capacidade de repetir os disparates, os erros, as manias e os vícios da era de David catarino”.
Ora aí está uma crítica forte e incisiva, que em nada abona a favor da imagem pública do actual presidente da Câmara Municipal de Ourém.
Não temos razões para duvidar da veracidade do que nos é relatado naquele texto, mas, diga-se de passagem, não deixámos de ficar extremamente surpreendidos e preocupados.
Não nos era expectável que Paulo Fonseca, a menos de um ano da sua eleição, já tivesse adquirido os tiques de autoritarismo e arrogância que tanto criticou nos seus adversários políticos, e que foi motivo de chacota por parte do Partido Socialista e dos seus dirigentes ao longo de anos a fio, tantos quantos os anos da própria democracia.
Todos sabemos que o exercício do poder por largos períodos de tempo acaba por criar vícios, vaidades e excessos pessoais que transformam as pessoas em abutres selvagens, que acabam por ficar condicionadas e reféns do próprio poder que exercem.
E não é menos verdade que o poder absoluto corrompe absolutamente.
Ora, é isto precisamente aquilo que, nós oureenses, tivemos ao longo das últimas três décadas.
Três décadas em que assistimos ao exercício do poder absoluto, arrogante, antiquado, decrépito e malicioso, que transformou Ourém num concelho parco em desenvolvimento e sem perspectivas de crescimento a todos os níveis.
Um concelho parado no tempo, de vistas curtas e a ver passar os navios, enquanto os concelhos vizinhos cresciam e se expandiam, se modernizavam e evoluíam.
Foi para virar a página e cortar radicalmente com os vícios do passado que Paulo Fonseca foi eleito presidente da Câmara Municipal de Ourém.
Foi para trazer uma lufada de ar fresco às pessoas e às instituições, foi para quebrar o marasmo em que estávamos mergulhados há longos anos, acomodados que fomos aos “Velhos do Restelo” que nos foram governando década após década, fase na qual, a par de um concelho pobre e de fracos rendimentos, não se conhece, todavia, nenhum político que tenha passado pelas altas esferas da nossa Câmara que não tenha criado um bom pé-de-meia para a velhice.
Entre tachos e panelões, favores e benesses, subornos e sacos azuis, houve de tudo um pouco, só não vê quem não quer ver.
Paulo Fonseca tem de ser a antítese desta trapalhada e salganhada toda. Não se pode deixar cair em tentações oblíquas e que avivam a pior memória do passado.
Se Paulo Fonseca transigir na defesa dos melhores valores que devem nortear o seu mandato, se em vez de tolerar se voltar para a intolerância e para a arrogância, se transformar o exercício do seu poder numa arma de arremesso a favor de clientelas e amizades frívolas, se esquecer rapidamente o compromisso que tem com os eleitores e não honrar o seu programa de campanha, então, nessa altura, é bom que saia de cena e leve consigo o seu séquito de fiéis seguidores – os compadres e as comadres que só se sentem realizados profissionalmente quando usurpam o poder.
Mas, o povo é sereno e está atento. E não é estúpido. Porém, ao mínimo rombo na dignidade e na decência, à mínima falha de transparência, o povo puxa-lhes o tapete e lá vêm todos por aí abaixo.
E que grande trambolhão será.