A rentrée do “Notícias de Ourém”, após umas merecidas férias, deixou-nos particularmente satisfeitos por termos constatado que os deputados oureenses à Assembleia da República, eleitos pelo distrito de Santarém, aparecem agora lado a lado, com colunas distintas, a falar-nos de “Actualidades”, no caso de Carina João, e de um sortido de temas sobre o concelho e o país, coluna embora não epigrafada, no caso de António Gameiro.
Aos dois apresentamos desde já as nossas mais sinceras e cordiais felicitações por terem aceite tal desafio, o que acaba também por revelar que ambos estão animados por um verdadeiro espírito democrático de partilha de pontos de vista e de confronto salutar de ideias.
Agora que se inicia este “frente-a-frente” político, que coloca na coluna da esquerda o PSD e na coluna da direita o PS, impõe-se, todavia, fazer duas análises acerca destas colunas de opinião, uma relativa à forma, e outra relativa à substância.
Quanto à forma, nada temos a apontar. A cada uma das reflexões foi atribuído um terço de página, numa lógica equitativa, o que achamos justo, e ambas têm um cariz claramente partidário, arreigadas à ideologia que representam e formalmente dependentes das respectivas forças partidárias, pese embora o facto de parecerem reflectir as opiniões pessoais dos seus autores.
Há ainda a referir o facto de António Gameiro ter optado por se socorrer de frases célebres de outros autores para, de forma recorrente e sistemática, terminar as suas reflexões.
Trata-se de um pormenor formal que embeleza e enriquece o texto, com a particularidade de pôr os leitores a reflectir sobre o que acabaram de ler, ainda que por vezes essas frases estejam carregadas de simbolismo e/ou de “indirectas”.
Quanto à substância, a realidade impõe que olhemos para estas duas colunas com outros olhos, mais perscrutantes, diríamos nós, ou vistas por outro prisma.
Na verdade, a coluna da direita, a de António Gameiro, tem vindo, ao longo do tempo, a evidenciar um conjunto de pontos de vista que abordam, como dissemos atrás, várias vertentes da vida política, económica, social e cultural do concelho e do país.
Mas, há em quase todos eles, e já são muitos, um denominador comum: o facto de estarem ao serviço da actual maioria camarária, ou não fosse uma constante verificarmos que o que ali se diz são autênticos elogios directos ao trabalho desenvolvido pelo executivo do PS na Câmara Municipal de Ourém.
Até parece que o actual executivo precisa de uma figura supostamente “independente” para promover a sua gestão, uma espécie de “relator principal” da Câmara, um promotor público da imagem do presidente, fiel guardador da honra do convento e astuto arauto das boas novas socialistas.
Para além disso, verificamos, não raro, que as reflexões do nosso estimado amigo António Gameiro acabam por desancar no trabalho feito pela anterior gestão municipal promovida pelo PSD, desferindo muitas vezes duros golpes sobre os seus adversários políticos, através de um discurso que, achamos, está muito próximo daquilo a que se chama comummente bota-abaixo ou crítica fácil.
Temos para nós que a crítica pela crítica não gera soluções para os problemas com que estamos confrontados, não abonam a favor do próprio nem são uma mais-valia para o concelho.
E não está em causa a veracidade (pois que ela existe) de alguns ataques que são proferidos, mas antes a oportunidade e a maneira como são feitos.
Se, para afirmarmos as nossas ideias, precisamos de andar constantemente a rebuscar no passado os podres social-democratas em termos da gestão da autarquia oureense, ficará sempre a ideia, para quem está de fora, que os seus autores têm tudo menos ideias para o nosso concelho.
O que está feito, está feito, e os oureenses não precisam que lhes relembrem semanalmente que tiveram uma Câmara que cerceou o desenvolvimento da sua terra por longas e angustiantes décadas.
Diferente seria se os agora ilustres colunistas, Carina João e António Gameiro, enveredassem por outro caminho.
Dizemos isto, porque, a avaliar pelas “Actualidades” que Carina João nos trouxe no seu primeiro texto, ou seja, a proposta de Revisão Constitucional apresentada pelo PSD, os seus contornos e o seu alcance, estamos em crer que a sua coluna irá também desembocar numa “feira de vaidades”, numa promoção partidária das políticas do PSD, baseada em elogios precários e que só muito indirectamente resolvem os problemas concretos dos oureenses.
E qual é esse caminho?
Bem, esse caminho é aquele que é calcorreado pelas estradas do nosso concelho, pelos meandros dos nossos problemas, pela vida quotidiana de todos nós oureenses.
É um facto que Carina João e António Gameiro foram eleitos deputados pelo círculo de Santarém e são oureenses.
É nessa qualidade que, do nosso modesto ponto de vista, deviam outorgar as suas colunas, preocupando-se mais em explicar aos oureenses o que andam a fazer pelos corredores de São Bento em prol do concelho de Ourém, do que propriamente desfiarem um “rosário” que pertence a outros “campeonatos”.
Seria certamente mais importante e profícuo para todos nós que os nossos deputados nos dissessem semanalmente quais foram as iniciativas que levaram a cabo na Assembleia da República tendo em vista o progresso do concelho de Ourém.
Dir-nos-ão que basta clicarmos no site da Assembleia da República ou termos um perfil no Facebook para nos inteirarmos das vossas iniciativas parlamentares. É verdade. Mas, não é menos verdade que nem todos têm o privilégio de dominar as novas tecnologias, e a curta distância a que está um clique para alguns, transforma-se num oceano intransponível e incompreensível para muitos outros, precisamente aqueles para quem o jornal ou as conversas de café são os únicos meios de que dispõem para obter as respostas para os problemas que os preocupam e com que são confrontados todos os dias.
É por tudo isto, mas certamente por muito mais, que valia a pena vermos as vossas colunas no “Notícias de Ourém” a servir construtivamente o nosso querido concelho de Ourém, ao invés de serem meras caixas de ressonância partidária e servir unicamente para promover os vossos partidos, as vossas próprias paixões e vaidades pessoais.