EM POMPEIA, O DRAMA SUCEDE À ESPERANÇA
Em Pompeia, julgou-se ser possível fugir ao destino criminoso. Cinzas, lapilli, pó, não passavam de ligeiros projécteis contra os quais parecia ser fácil a protecção. Infelizmente, foi este optimismo, este desejo de permanecer no local e de nele se abrigar, que provocou a perda de um grande número de habitantes de Pompeia (o número de vítimas pode avaliar-se em dois mil).
Nem por um instante lhes veio à mente (como censurar-lhes isto?) que esta queda de cinzas e de escórias seria tão abundante que, sob o seu peso, os edifícios ruiriam, enquanto a sua natureza pulverulenta lhes permitiria introduzir-se pelos mínimos orifícios, até nas caves e subterrâneos aparentemente mais protegidos.
Por não terem querido fugir, estavam todos condenados.
A primeira tragédia ocorreu na casa de Lúcio Herénio Floro, imprudentemente construída nos flancos do Vesúvio. Já danificada aquando do sismo de 63, estava em vias de reconstrução: só os escravos e os libertos a habitavam, pois o patrão apenas lá ia de tempos a tempos, para vigiar os trabalhos. Infelizmente, no dia fatal, encontrava-se na Villa com um intendente e um escravo.
Desde os primeiros abalos, os três tentaram fugir, mas os vapores de enxofre e a escuridão profunda levaram-nos a renunciar a esse projecto. Rapidamente, os três homens reuniram os tesouros da casa: jóias, moedas de ouro, objectos em prata lavrada. O escravo dirigiu-se para a adega a fim de os enterrar, mas os gases mais pesados já enchiam a sala; tombou no meio das riquezas que levava nos braços. Os seus companheiros, apesar dos panos com que tentavam proteger o rosto, tiveram o mesmo fim, no lugar onde tinham ficado.
Mais em baixo, na cidade, os habitantes ainda hesitavam em fugir: tinham assistido à enorme explosão, a terra havia tremido debaixo dos seus pés, mas tudo isso fora tão rápido, e o perigo mais próximo, cinzas e lapilli, era para eles tão estranho, que perderam um tempo preciso, erro que pagaram com a vida. Começavam agora a cair cinzas brancas. Os lapilli escaldantes, as pedras que se transformavam em pó, a chuva… tudo caía sobre a cidade em quantidades tão grandes que, abandonando a refeição sobre a mesa, o pão no forno, os animais amarrados, os infelizes Pompeus decidiram-se finalmente a fugir, parte deles, e outros a abrigar-se. Estes últimos foram logo asfixiados pelos gases sulfurosos e pelos vapores clorídricos que o vento não parava de voltear. As cinzas molhadas pegavam-se às pernas dos fugitivos, que a custo abriam caminho através da camada de lapilli que rapidamente atingiu três metros de altura.
Como a chuva mortal vinha do Nordeste, dirigiram-se para Oeste – para o mar – depois para Sul, utilizando as ruas outrora tão alegremente animadas que, julgavam eles, os conduziriam a porto seguro.
(Continua…).