Uma das coisas (entre muitas outras) que nos causam uma enorme confusão é a facilidade com que, em Portugal, as pessoas transitam do poder económico para o poder político, e vice-versa, numa amálgama de promiscuidade latente que não deveria deixar ninguém indiferente.
Tudo se passa diante dos nossos olhos, e parece que este fenómeno é normal e já faz parte da natureza das coisas. Habituámo-nos a conviver com ele, e julgamos que é uma inevitabilidade do “sistema”.
Mas, é algo que roça a indignidade e convive a paredes meias com a falta de valores de referência na nossa sociedade: a ética, a moral, a integridade ou a justiça, enquanto pilares de uma sociedade plural e democrática, mas também justa e solidária, esbatem-se e descoloram-se, não tanto por uma qualquer metamorfose intrínseca ou natural dos paradigmas sociais, mas simplesmente porque “passam de moda” ou deixam de ser praticados todos os dias.
Quando as sociedades começam a dar mais valor ao facilitismo, a viver do e para o dinheiro, ou a embrenhar-se em teias esquisitas de favorecimentos e interesses particulares, é meio caminho andado para se desintegrarem enquanto comunidades de gente livre e responsável.
E quando deixa de haver uma fronteira nítida entre o bem e o mal, entre o justo e o injusto, entre o possível e o impossível, então é sinal que, acaso não tenhamos já definhado enquanto sociedade ou comunidade, para lá caminharemos seguramente a passos largos.